Deixar ou não os filhos assistirem televisão é tema bastante polêmico hoje. Não me parece que tenha sido sempre assim. Na minha infância, não me lembro de essa ser uma questão preocupante. A televisão era quase liberada, mas a programação na época era bem mais restrita e pouco interessante para ao público infantil. As brincadeiras de rua continuavam muito mais bacanas que a telinha.
Talvez o fácil acesso aos meios tecnológicos e seu uso indiscriminado hoje, para toda e qualquer idade, de bebês a adolescentes e jovens, terminou por colocar TV, tablets, smartphones e seus aplicativos no banco dos réus.
É muito comum ver bebês novinhos hipnotizados pela (bendita ou maldita) galinha nos restaurantes, crianças deixando a bola de lado para jogar videogame, meninos ou meninas “viciados” nos encantos de uma tela mesmo estando num parque de diversões.
Obviamente que essa é uma realidade que merece a atenção das mães e dos pais das crianças de hoje.
Lá em casa, Isabela e Laura não assistiram televisão nem tiveram acesso a telas até o seu primeiro ano de vida. Nunca achamos necessário e sempre preferimos outros métodos para distrair e entretê-las. Sentia que colocá-las diante da TV seria uma espécie de imposição externa forçada, já que elas mesmas nunca manifestaram nenhuma vontade ou interesse genuíno e espontâneo. Não queríamos incentivar um contato precoce.
Depois do primeiro ano, as meninas passaram a demonstrar certo interesse e uma atenção maior por celulares, telas e pela programação da TV. Estes continuaram a não ser um elemento presente constante no seu dia a dia. Eventualmente (talvez uma ou duas vezes por semana passou a ser três ou quatro vezes na semana), por poucos minutos (5´ ou 10´ no máximo 30 minutos de desenho hoje em dia já passam voando para elas), colocamos alguma programação infantil para elas assistirem.
Os canais de desenho na TV a cabo as vezes são opção, mas a menos interessante porque a qualidade é bem baixa e o excesso de publicidade é irritante (até para as meninas, que logo perdem o interesse diante da demora do retorno do programa principal).
O que mais faz fazia sucesso são eram os canais que mostram bichos, estilo Discovery Chanel, National Geographic e afins. Esses elas pedem: sentam no sofá ou na cama e pedem “bichinhos, mamãe”.
As duas não têm ligação ou identificação com personagens comerciais, desenhos ou programas mais populares (ok, admito, elas conhecem a “Peppa”, não sei de onde, nem porque, mas olham a porquinha rosa e falam “Peppa”. Se elas assistiram esse desenho uma meia dúzia de vezes na vida inteira foi muito! #medo).
Depois dos seus dois anos, as duas passaram a conhecer a maioria dos personagens dos desenhos mais comuns e comerciais como Peppa, Patrulha Canina, Lady Bug, Whisper, Barbie, Moranguinho, Super Wings, e, como dificilmente poderia deixar de ser, toda e qualquer Princesa da Disney.
Elas não mexem nos nossos celulares ou tablets para brincar em aplicativos (ainda…). Não temos DVD no carro para que assistam durante os passeios. Nunca colocamos vídeos para que ficassem quietas enquanto comemos em algum restaurante (a refeição costuma ser um caos, mas ainda resistimos bravamente).
Na verdade, o poder de atração que as telas exercem sobre as meninas ainda é limitado. Mesmo diante de um desenho na TV, elas se distraem muito fácil com outras coisas e logo correm para pegar um brinquedo ou para começar uma brincadeira diferente.
Não acho isso de todo ruim.
Atualmente, o interesse da Isabela e da Laura por televisão, desenhos e filminhos infantis é enorme; pelos celulares então… Elas ainda não veem TV todos os dias, mas este já é um recurso presente na sua vida e que exerce considerável fascínio. Tanto é assim que muitas vezes temos que controlar e driblar os pedidos delas por desenho para evitar excessos.
Na quase totalidade das vezes que recorremos hoje em dia à televisão para entreter as duas, é em uma situação de pressa, em que precisando de tempo livre para terminar de nos arrumar ou arrumar as coisas pouco antes de sair de casa para algum compromisso.
Laura gosta mais da TV que a Isabela. Fica mais concentrada e dura mais tempo em frente a telinha. Isabela fica uns dois minutos e já começa a fazer algo diferente (essa ainda é uma realidade, mas a resistência das duas aumentou a olhos vistos. rs).
Parece até tentador ter um recurso no qual as meninas se concentrem por mais tempo, para poder dar conta das atividades de casa. Por outro lado, não quero criar zumbis televisivos, da legião dos que passam horas e horas na frente da TV sem reações ou movimentos.
Tenho minhas dúvidas se existe um tempo seguro para que as crianças fiquem na frente das telas. Também não sei sobre possíveis consequências do uso excessivo desses aparelhos na infância, na primeira infância principalmente; só confio no meu instinto que diz que daí não surge coisa boa. Muito me preocupa a influência da publicidade direcionada ao público infantil.
Por isso, preferimos evitar e controlar o uso que as meninas fazem da tecnologia.
Inevitável uma auto análise no meio disso tudo. Não é coerente não querer que Isabela e Laura mexam em celular se ficamos todo o tempo que estamos com elas mexendo em um; não é justo proibir a TV para elas se assistimos TV o dia todo. Elas vão reproduzir nossos comportamento e também nossos interesses, mais cedo ou mais tarde.
O bom é que daí surge um esforço de nos policiar, de estar com as duas de modo mais inteiro, sem dispersar com celular, computador ou TV a todo momento. Muitas dessas coisas podem esperar.
Sei que vai ser complicado mantê-las afastadas desses recursos por muito tempo. Eles fazem parte do nosso dia a dia. Talvez esse início mais controlado e de menos acesso à tecnologia pode ajudar a aumentar seu gosto pelas brincadeiras livres e a deixar a TV para momentos pontuais. Mas deixemos as coisas do futuro para o amanhã… hoje as coisas funcionam bem assim e em time que está ganhando não se mexe…rs
Em Tempo: A Sociedade Brasileira de Pediatria – SBP lançou no último ano um Manual sobre “Saúde de Crianças e Adolescentes na Era Digital”. As orientações, de caráter internacional, são no sentido de que o tempo de tela seja limitado e proporcional às idades e às etapas do desenvolvimento cerebral-mental-cognitivo-psicossocial das crianças e adolescentes.
Até 2 anos, crianças não devem ser expostas passivamente a telas, especialmente nos horários de refeição ou 1-2h antes de dormir. Crianças entre 2 e cinco 5 devem ter o tempo de exposição limitado: no máximo uma hora por dia. Fazer uso de televisão ou computador nos seus próprios quartos não é recomendado para crianças menores de 10 anos. Mesmo após essa idade, recomenda-se que o uso seja limitado e mediado pelos pais ou responsáveis.
Os excessos tecnológicos na infância e adolescência foram comprovadamente associados ao aumento da ansiedade, à dificuldade de estabelecer relações em sociedade, ao estímulo à sexualização precoce, a adesão ao cyberbullying, ao comportamento violento ou agressivo, aos transtornos de sono e de alimentação, ao baixo rendimento escolar, às lesões por esforço repetitivo e à exposição precoce a drogas, entre outros, aspectos evidentemente negativos para a saúde individual e coletiva, com graves reflexos para o ambiente familiar e escolar.
Orientações para os pais:
- Verificar a classificação indicativa para games, filmes e vídeos e conteúdos recomendados de acordo com a idade e compreensão de seus filhos;
- Estabelecer regras e limites bem claros sobre o tempo de duração em jogos por dia ou no final de semana e sobre a entrada e permanência em salas de bate-papo, redes sociais ou durante jogos de videogames online;
- Discutir francamente qualquer mensagem ofensiva, discriminatória, esquisita, ameaçadora ou amedrontadora, desagradável, obscena, humilhante, confusa, inapropriada ou que contenha imagens ou palavras pornográficas ou violentas;
- Recomendar aos seus filhos que nunca forneçam a senha virtual a quem quer que seja, nem aceitem brindes, prêmios ou presentes oferecidos pela Internet, assim como também jamais ceder a qualquer tipo de chantagem, ameaça ou pressão de colegas ou de qualquer pessoa online;
- Lembrar sempre que você como adulto, pai ou mãe, e, com a convivência diária, se torna um modelo de referência para seus filhos. Portanto dar o primeiro exemplo: limite o seu tempo de trabalho no computador, quando em casa. Desconectar e estar presencialmente com seus filhos.
Post publicado em 2016 e adaptado em novembro de 2017.