Isabela e Laura estão numa fase bastante desafiadora (pensando bem, qual não é!?).
Elas estão brigando um bocado. Por qualquer mínima coisa. Pelo amendoim que caiu no chão. Pela cor da flor no jardim. Pelo nome da boneca. Pelo silêncio que uma quer e a outra não. Pelo brinquedo (que normalmente tem em dobro). Pelo colo. Por quem escovará os dentes primeiro ou por quem tomará banho por último.
Qualquer razão parece ser grave o bastante para se deflagrar a terceira guerra mundial infanto-juvenil.
Isso começa assim que abrem os olhos pela manhã, continua ao longo do dia e termina quase no último suspiro antes de adormecer.
O tom das brigas, as vezes, é sério o bastante para chegar às vias de fato.
É evidente, muitas vezes, o nítido propósito de implicar e irritar a irmã. Na maior parte do tempo, de forma gratuita mesmo.
Só o amor justifica tamanha cricrizisse. Não tenho dúvidas!
Mas devo admitir que não estou achando nada legal ficar no meio do fogo cruzado e ser chamada a cada 5 segundos para apartar brigas reais e imaginárias.
“Mãe, Laura disse que não é minha amiga!”
“Mãe, Isabela não quer emprestar o brinquedo!”
“Mãe! Ela está cantando a música errado!”
“Mãe! Ela me bateu!”
“Mãe!”
“Mãe!”
“Mãe!”
Minha vontade, muitas vezes, é trancar a respiração e me fingir de morta.
O que obviamente não cai bem ao adulto da relação, no caso, eu mesma (infelizmente ou felizmente!?).
Sou a adulta que já gritou, já ignorou alguns escândalos, já bateu altos papos cabeça com crianças de 3 anos, já falou demais (e também de menos), já tentou ser imparcial e conseguiu, já procurou ser justa e falhou. A adulta que está fazendo mestrado às cegas em estratégias para mediação e prevenção de conflitos infantis.
Algumas vezes, as estratégias funcionam. Noutras, nem tanto.
Dá para perceber que, no fundo disso tudo, tem uma grande dose de disputa pela atenção da mamãe aqui. Muitas pitadas de construção da autonomia e poder individual. Algumas porções de desenvolvimento de habilidades de convívio social.
Quão difícil pode ser a formação de um ser humano socialmente hábil e capaz de resolver respeitosamente seus conflitos; de manifestar opiniões e vontades nos mais diferentes ambientes; de conviver harmonicamente com as diferenças e, sobretudo, com a frustração?!
Está aí uma questão profunda.
Para mim, no alto da minha humanidade, tem sido bastante penosa a função de mediadora nesse processo.
Talvez me falte, por vezes, alguma habilidade, paciência, instrumental, empatia, tolerância… nem sei ao certo nomear o que me falta.
Ando precisando aprimorar com urgência minhas táticas e estratégias (e, sobretudo, meu limiar de paciência).
No momento, o que mais tem funcionado são conversas mentais comigo mesma quase na frequência de um mantra: “Mantenha a calma, Priscila! Elas são as crianças; você, a adulta! Elas estão aprendendo a conviver, interfira o mínimo possível. Não saia do seu eixo, nem grite mais alto do que elas. Apenas respira e lembra que isso também passa!”