Esse não é um assunto confortável para mim.
Não quero, em hipótese alguma, representar qualquer espécie de incentivo ao uso de bicos artificiais por bebês. Considero vitoriosíssimas as mães que conseguem manter amamentação exclusiva, sem recorrer a bicos, nem chupeta. Sou fã incondicional!
Não foi esse nosso caso, porém. Vencemos muitas pressões, mas nos rendemos a esta. Numa noite de desespero e exaustão absolutos decidimos dar chupeta para Isabela e Laura (após muito choro e drama da minha parte). Eu estava em frangalhos e não conseguia mais administrar no seio a vontade de sucção das duas.
Nesse aspecto, a chupeta acabou sendo uma aliada no momento de acalentar as meninas.
No início, Isabela e Laura usavam indiscriminadamente a chupeta: de dia, de noite, acordadas, dormindo, em casa, na rua… era uma parte delas praticamente.
Conforme elas foram crescendo, começamos a regular o seu uso. Por volta de seus dois anos, fizemos um combinado de que a chupeta seria usada apenas na hora de dormir. Elas resistiram, pediam fora de hora, mas mantivemos firme a decisão e elas entenderam o recado: chupeta apenas na hora da soneca da tarde e do sono da noite.
A chupeta delas sempre foi presa a uma fraldinha e passou a representar uma naninha, um objeto de transição e apego importante para elas, um calmante quase instantâneo para horas difíceis.
O tempo foi passando e eu literalmente ignorava o momento de tirar a chupeta delas. Nem a leve bronca da odontopediatra mudou minha mente.* Eu sinceramente não estava com a menor vontade de “comprar essa briga”, não quando ainda havia tantas outras pendentes (como dormirem na própria cama, não acordarem 67 vezes por noite e por ai vai…). Tinha muito receio de que o sono delas piorasse com a retirada da chupeta.
Acreditem se quiser, mas o fim da chupeta foi um assunto puxado pelas duas. Talvez por verem vários amiguinhos que já não usavam ou por saberem das histórias de muitos outros que haviam deixado de lado o objeto. Elas começaram a dar ideia de entregar a chupeta para os peixinhos na praia, dar para um bebê que vai nascer ou mesmo jogar no mar ou no lago, tudo isso quando completassem quatro anos.
Eu embarquei nesse bonde. Repetia para mim mesma que, se eu perdesse essa carona, poderia demorar para aparecer outra boa oportunidade assim.
Foi, então, que Isabela e Laura completaram quatro anos… Era hora de colocar o projeto “fim das chupetas” em ação. Mas elas fazem aniversário em janeiro, íamos viajar nas férias, tinha a volta às aulas ainda (essa sou eu justificando minha omissão…). Então eu deixei para lá isso por mais um tempinho…
De volta à rotina, após as férias, numa manhã de fevereiro, Laura me abordou assim que acordou para dizer: “mamãe, sabia que eu já sou grande, tenho quatro anos, não preciso mais de chupeta para dormir. Hoje vou dormir só com a minha fraldinha, sem chupeta”. Isabela foi na onda e logo disse: “Eu também, não quero mais a chupeta”.
Aguardei chegar a noite e a hora de dormir para ver como elas agiriam. Para minha surpresa, trouxeram novamente o assunto, confirmando que essa seria a noite em que não dormiriam mais de chupeta.
(Um minuto de silêncio!)
Eu não sabia muito bem o que dizer nem como fazer isso ai. Nesse tempo todo, nunca coloquei as duas para dormir sem chupeta (antes dela havia o peito). Disse para mim mesma, “Ok, elas são fortes e já disseram que estão preparadas, deixa de ser frouxa. Vai em frente!”.
Respirei fundo, concordei, fiz festa com a ideia, deitei as duas cada uma em sua caminha com sua fraldinha e segui nosso ritual de cafuné e música de ninar. Laura dormiu sem dificuldades. Isabela relutou um pouco (bem pouco mesmo): ela dizia que não conseguia dormir sem a chupeta e eu a estimulei a tentar, já que ela já tinha os tão esperados quatro anos. Poucos minutos depois, ela também pegou no sono.
Saio eu do quarto, aos prantos, sem saber exatamente como administrar aquele misto de sentimentos de orgulho, tristeza, alegria, nostalgia…
Obviamente essa é uma grande conquista rumo a uma maior maturidade e autonomia. Mas, ao mesmo tempo, esse era um elemento que ainda me remetia à ideia de que Isabela e Laura são pequeninas, meus bebês, dependentes ainda daquele apego e do meu colo para se sentirem seguras.
Elas terem dormido tão facilmente sem a chupeta me trouxe a mente uma prospecção muito forte do destino da minha presença e controle regular em suas vidas num futuro não tão distante. Meu pensamento em resumo era: “elas vão me largar como largaram essa chupeta. Do dia pra noite. Sem mais nem menos. Assim, de repente…”
Eu chorei toda a minha incompreensão e insegurança, a minha inabilidade para lidar com a sutileza que representa a proporção inversa inerente à relação entre o desenvolvimento dos filhos e nossa imprescindibilidade em suas vidas.
Isso é, de fato, o que o futuro nos reserva.
Nós, que muitas vezes fusionamos nossa vida às necessidades das crianças, não podemos nunca perder de vista que, num belo dia (não tão distante), eles irão alçar seus voos solos.
Dormir sem chupeta é apenas um deles. Vai acontecer…
Passadas as primeiras noites sem a chupeta, Laura sentiu saudade e pediu para dormir um dia com ela. Não quis ser radical. Eu usei chupeta na minha infância e o processo de retirada não foi muito bacana. Não quero que isso aconteça com elas também, não quero que fechem mal essa porta e que, depois, dela saiam alguns fantasmas. Quero que seja natural, respeitoso, gradativo e definitivo, sem retrocessos (in)conscientes
Laura, então, dormiu com a chupeta e, no dia seguinte, veio me entregar dizendo que não precisava mais.
Isabela, dias depois, pediu a dela também. Dormiu uma noite e me devolveu.
Assim seguimos nesse processo de desapego e superação dessa parte da fase oral. Gradualmente.
Quase todas as noites são sem chupetas por aqui hoje em dia. É certo que elas em breve sequer serão objeto de lembrança. Ficarão para trás, definitivamente…
Nessa hora, eu vou estar lá super orgulhosa de todo o seu progresso e independência… certamente tentando disfarçar a voz embargada e o olho meio lacrimejante de quem, por dentro, não está sabendo lidar tão bem assim com o fato de que as crias estão, pouco a pouco, dando seus passos para fora do ninho…
Maravilhoso!
Eu que nunca passei por esse processo chorei com essa reflexão.
Parabéns para você que está conduzindo esse processo com leveza e para as pequenas dando um show de maturidade.
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Obrigada, querida!! Estou muito sensível às autonomias crescentes das meninas. Nossa. =/
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