Tenho me sentido muito contraditória por vezes.
Ao mesmo tempo em que desejo que Isabela e Laura cresçam e se tornem independentes, resisto em lhes dar espaço para construírem sua autonomia em certos momentos.
Isso aparece nas pequenas coisas, não nas maiores.
No macro, eu sou aquela mãe que estimula, capacita, treina, solta, deixa ir… no micro, posso ser deveras apegada, insegura, resistente e excessivamente cautelosa.
Fico em um conflito materno intenso.
Eu procuro fazer com que elas escovem os dentes sozinhas, mas no abro mão da função de colocar a pasta na escova.
Dou opções de comida na hora das refeições, mas faço questão que comam a quantidade que eu considero adequada nos horários que considero ideais (essa parte da alimentação é ainda um calo no meu sapato de mãe que não consegui superar).
Permito que escolham as roupas que vão usar, mas ainda tenho muitas regras e proibições a depender dos momentos e ocasiões.
Solto-as no parquinho, mas estou sempre pedindo cuidado, atenção e mantendo o olho atento para qualquer necessidade.
Dou liberdade condicionada na rotina, mesmo aos finais de semana, férias, feriados, o que me faz me sentir meio control freak.
Elas já querem ir ao banheiro sem adaptador de assento, mas eu não estou preparada para isso e insisto que o usem.
Elas alcançam a pia, mas eu prefiro ajudar a lavar as mãos algumas vezes.
Elas são muito diferentes uma da outra, mas eu teimo em comparar ou tratar da mesma forma em certos momentos.
Vejo minhas aparentes faltas de coerência, de consistência e de segurança.
Talvez essa autocrítica represente a exigência de perfeição inalcançável dentro da maternidade que me é possível.
O mais provável é que tudo isso faça parte de um processo da vida inteira que nos torna gradativamente preparadas para abandonar rotinas e processos que funcionavam num passado bem recente para, então, conseguir dar espaço ao novo de cada fase do crescimento e desenvolvimento dos filhos.
Afinal, é nossa função maior lhes garantir saúde, segurança e capacitação adequadas. Somos os seus guias nesses primeiros passos do caminho da vida.
É uma responsabilidade extraordinária e, ao mesmo tempo, gratificante.
Mas é inegável também que pode ser um pouco dolorido ver os filhos tomando as rédeas de sua existência e nos mostrando, cada dia mais, o caráter acessório e coadjuvante do nosso papel nela.
Sim, somos importantes, essenciais até, mas não podemos perder de vista que o protagonismo do espetáculo é deles.
Devemos saber a hora de deixar o palco, por mais difícil que possa ser…
*Mais do que destinado a qualquer outra pessoa, esse texto é para mim mesma, numa busca por compreender e materializar fases do processo inexorável de ver minhas filhas crescerem sem que isso signifique também deixar de ser parte de mim.
Falou tuudo!! Adorei seu conteúdo!!
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Obrigada!!!! =*
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