Quebrando o ciclo de violência na criação dos filhos

“Educar é autoeducar-se”* 


Tem tempo que li essa frase pela primeira vez, mas ela passou a fazer mais sentido para mim na atual fase de criação das meninas.

Isabela e Laura estão em pleno “terrible two”, aquele momento da vida em que os filhos ainda são pequenos no tamanho, mas gigantes em vontades próprias e na capacidade de contrariar regras e convenções de todo e qualquer tipo.

É um período em que os pais se sentem especialmente desafiados pelos filhos.  Em que, repetidas vezes, vemos todo nosso instrumental racional, intelectual e didático ir por água abaixo. Perdemos o eixo do equilíbrio que é esperado de um adulto maduro e somos conduzidos na direção daquela sombra, talvez da nossa própria infância, que pode nos remeter a padrões nada ortodoxos de como se relacionar com crianças.

É nessa hora que o tom de voz se altera, que a arma da ameaça é sacada, que o castigo parece uma solução tentadora, que uma espécie de violência que jaz oculta beeem lá no fundo pode se instalar. Não cogito aqui apenas violência física: essa, ao menos para mim, está fora de cogitação no processo de educação das minhas filhas. Falo mais especificamente da violência da palavra que fere (mais que uma palmada talvez), da atitude que magoa, da postura que assusta, do olhar que intimida, da rispidez que amedronta…

Eu já recebi olhares de medo das meninas em momentos de descontrole dos quais, obviamente, nada me orgulho. Momentos em que falei grosso e agi mais grosso ainda. No meio disso tudo, percebi a forma como as duas me olhavam e senti uma dor no fundo do coração. Elas nitidamente estavam com medo de mim…

Eu não tinha sequer a noção de que, apesar de toda boa intenção e esforço que tenho na criação das meninas, poderia gerar nelas essa reação.

Esse não é, nem de longe, o tipo de relacionamento que quero construir com Isabela  e Laura. Racionalmente, nunca foi opção para mim educá-las pelo medo. Ao contrário, sempre pensei em ensiná-las pelo amor, respeito, compreensão, acolhimento, companheirismo, empatia…

Só que, nesse processo de criação das meninas, tenho descoberto, mais e mais a cada dia, o quanto preciso reeducar a mim mesma. Tenho visto o quanto preciso romper meus padrões, sair do automático, superar “traumas” da minha infância, compreender e reescrever a história da minha criança para então encontrar o equilíbrio e o centro para criar minhas filhas com o respeito e o afeto que elas precisam e merecem.

As crianças nascem, vão crescendo e, nós, pais e mães, vamos aprendendo junto com elas a exercer nosso papel. Não sabemos tudo. Nunca saberemos, na verdade. Precisamos nos conscientizar da nossa falibilidade e humanidade, pois só assim será possível estabelecer uma relação honesta e segura com os filhos. Falhamos e falharemos muitas vezes mais no caminho. Precisamos aprender o quanto antes a nos perdoar, compreender e respeitar nossos limites pessoais. O respeito ao outro passa, necessariamente, pelo respeito a nós mesmos.

Para quebrar o ciclo de violência que agride não apenas a criança, mas principalmente quem a educa, o primeiro passo é adquirir a consciência de onde se está e onde se quer chegar. O segundo é o autoperdão, ser compassivo consigo mesmo nas falhas. O terceiro pode ser, talvez, o esforço pessoal e diário para fazer melhor, com a certeza de que sempre teremos novas oportunidades para acertar depois de um erro.

“As crianças não estão prontas e nós também não”*

Quebrando ciclo2

*(Dr. Derblai R. Sebben)

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