Nas viagens de avião, na apresentação das regras básicas de segurança que quase nunca acompanhamos de verdade, a aeromoça sempre repete essa instrução: “em caso de despressurização da cabine, primeiro coloque a máscara em você e depois nas crianças”.
Se eu tivesse alguma noção de quão essencial para minha vida seria essa regra, teria dado mais atenção à sábia aeromoça antes.
Logo que me tornei mãe, virei também uma pessoa em segundo plano, uma coadjuvante na vida real. Procurava atender todas as necessidades da Isabela e da Laura antes de fazer algo por mim. Como as necessidades delas eram intensas, muitas e em dobro, já dá para imaginar o final desse filme: eu fazia muito pouco ou quase nada por mim. E não estou falando de luxos e extravagâncias, estou falando de necessidades básicas mesmo como ir ao banheiro, comer, dormir e afins.
O passar dos dias nesse ritmo me levou a um estado de exaustão sem precedentes. Isso, somado a um diagnóstico de depressão pós parto, me fez viver dias nada felizes.
Claro que ter um recém nascido para cuidar é muito trabalhoso (dois então?!): são seres indefesos que precisam construir uma ponte para essa nova forma de existir fora da barriga e nós, mães, somos essa ponte inicial, a lente pela qual eles vêem o mundo.
Porém, se nesse processo intenso, esquecemos de nós mesmas, toda essa dedicação assume um peso sobre-humano que constantemente desafiará as forças e nos colocará no limite.
Eu vivi no limite por muito tempo no início da minha maternidade. No limite do cansaço, da tristeza, da solidão, da culpa, da impotência, da insegurança… Digamos que fui testada de quase todas as formas possíveis.
Depois de um tempo, percebi que eu não precisava viver assim. Não tinha sentido existir dessa maneira. Ser mãe não era exatamente isso. Mãe não representa um ser completamente anulado em suas necessidades para que o bebê viva bem.
Na realidade, é justamente o contrário. Percebi que minhas filhas estavam realmente bem quando eu estava bem. Elas eram um perfeito reflexo meu. Quando eu vivia apenas a sobrecarga e a dureza dos nossos dias, elas gritavam a minha angústia e choravam o meu choro reprimido.
Eu vi e vivi na pele a materialização da minha “sombra” por meio da Isabela e da Laura. Tudo o que eu reprimia, engolia seco, guardava e remoia, elas colocavam para fora quase imediatamente (por meios que eu não lia muito bem, obviamente. Ah se eu tivesse a lucidez de hoje naquele tempo…).
O que ficava cada vez mais claro e certo é que elas ficavam melhores quando eu estava bem, quando, no meio da nossa rotina insana, eu conseguia cuidar também de mim e manter meus trilhos no eixo.
Eu deveria ter colocado a máscara primeiro em mim e apenas depois na Isabela e na Laura.
Não é ignorar suas necessidades. É estar bem justamente para atendê-las melhor.
Não é egoísmo. É reconhecimento da própria humanidade.
Não é negligência. É a necessidade básica de estar cuidada para, de fato, cuidar de alguém.
Não é preguiça. É admitir a verdade de que, na maternidade, sempre chegamos mais longe com uma rede de apoio, nunca sozinhas.
Nós, mães, temos que nos dar o tempo que precisamos (por menor que seja); cuidar da nossa alimentação, não apenas das crianças; descansar, não só velar o sono do bebê; construir momentos bons para nós, não apenas para os filhos…
Mesmo hoje em dia, com as meninas um pouco crescidas, esse ainda é um desafio. Quando estou no meu limite por alguma razão, meu desempenho como mãe da Isabela e da Laura não é o mesmo. Rapidamente me transformo naquela mãe impaciente, impositiva, cansada, tensa, explosiva e blá blá blá. Aquela mãe que eu não me orgulho de ser, mas que me mostra claramente que algo está desequilibrado em mim e que, naquele momento, sou em quem estou precisando de cuidados.
É quando devemos lembrar: “coloque a máscara primeiro em você, depois nas crianças”.
Pode ser tão revelador quanto transformador …
Reflexão muito interessante, Pri!
Colocar “a máscara” na gente antes parece óbvio, mas obviedades precisam sempre ser ditas (como reforçam as comissárias de bordo).
Precisamos aliviar nossas culpas e nos manter em foco para sermos boas mães e conseguirmos apoiar o desenvolvimento de filhos seguros e felizes (sejam recém-nascidos ou adultos). O lembrete é sempre válido!
Obrigada por compartilhar!
Beijos
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Lari! Com certeza. Mães precisam se descarregar da culpa porque a carga já é pesada o suficiente. E seu comentário me fez pensar algo q não tinha me ocorrido. O apoio e a preocupação com o desenvolvimento não se restringe ao tempo em q são bebês. Vai bem mais longe… Oh céus!
Obrigada pelo comentário.
Beijoca
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