O ritmo acelerado e sobrecarregado da vida, focado em produtividade, velocidade e quantidade, acontece não apenas na vida adulta, mas tem contaminado a rotina das crianças .
Excesso de atividades curriculares e extracurriculares resulta em uma agenda lotada de compromissos e horários cada vez mais cedo.
Um movimento de maternidade/paternidade conhecido como slow parenting* procura ir contra essa onda e defende justamente que as crianças tenham menos compromissos e mais tempo para o ócio. É o “Movimento dos Pais Sem Pressa”. A ideia é fornecer às crianças estímulos naturais no dia a dia e permitir que elas desenvolvam criatividade, resiliência, curiosidade e habilidades sociais naturais na convivência.
No fundo, significa respeitar o ritmo da criança e lhe dar tempo justamente para ser criança, valorizar esse tempo como produtivo e mudar a crença instalada de que apenas o ensino dirigido e o desenvolvimento programado de habilidades é, de fato, válido.
A lógica do consumo leva os pais a buscarem mais e mais recursos para oferecer aos filhos como forma de garantir seu melhor desenvolvimento para o futuro. A criação se torna um empreendimento pro futuro que muitas vezes acaba desprezando o momento presente e fulminando a espontaneidade das crianças.
O movimento passa necessariamente por desacelerar também a rotina dos pais. Pais ansiosos criam filhos a sua imagem e semelhança. É preciso tempo para descobrir o mundo e essa é uma verdade tanto para os grandes como para os pequenos.
Quer entender um pouco como fazer isso na prática?
Um bom começo é seguir os 7 MANDAMENTOS DO SLOW PARENTING:
1. SEM AGENDA: Crianças de zero a cinco anos não precisam de atividades estruturadas: devem aprender de forma livre.
2. MINIEXECUTIVO: Atividades extraescolares podem ser ótimas quando ajudam a exercitar a mente e o corpo. São ruins quando são exaustivas ou feitas só pensando no currículo profissional da criança.
3. DÊ OUVIDOS: A opinião da criança deve ser considerada. Escutar o filho é básico para uma relação de amor e confiança, mas isto tem confundido os pais a pensarem que significa deixar os filhos fazerem o que quiserem. Dar ouvidos é gerar permissão para que as crianças sejam quem querer ser, sem abrir mão de fazer o que precisa ser feito.
4. MENOS, MENOS: Simplifique a agenda dos seus filhos, deixando tempo livre para brincar. Brincar faz parte do desenvolvimento infantil e, na primeira infância, deveria ser das partes mais importantes do seu dia.
5. TÉDIO FAZ BEM: Deixar que as crianças fiquem entediadas é uma forma de fazer com que elas aprendam a ser mais criativas e resilientes.
6. ÓCIO FAMILIAR: Reserve algumas horas na semana para “fazer nada” em família – conversar, jogar, cozinhar sem nenhuma programação prévia. É o resgate de pequenos prazeres em família. Não significa ausência e indisciplina, mesmo porque crianças precisam de rotina e limites.
7. NOVOS AMIGOS: No parquinho, resista à tentação de brincar com a criança o tempo todo. Deixe ela brincar com outras pessoas e fazer amigos para além do círculo familiar.
*O movimento Slow Parenting teve origem com o canadense Carl Honoré, autor do livro “Sob Pressão”, e tem se firmado como uma filosofia contemporânea na educação das crianças.