Você já ouviu falar em Disciplina Positiva?
Se já, consegue explicar o que é?
Difícil, né?
Sou Michelli, educadora em DP, e ainda tenho dificuldade em explicar do que se trata, principalmente para quem nunca ouviu falar — ou para os que ouviram algo por alto e acreditam que é sinônimo de permissividade.
Meu primeiro contato com a Disciplina Positiva foi antes mesmo da minha filha nascer, por leituras em blogs sobre maternidade e criação de filhos. Viciada em livros, comprei o único livro traduzido para o português na época: Disciplina Positiva, da Dra .Jane Nelsen.
Confesso que não foi amor à primeira vista. Eu lia sobre criar os filhos de forma respeitosa e empática e isso fazia sentido para mim, mas não conseguia memorizar aquelas teorias sobre objetivos equivocados, crenças por trás do mau comportamento e todas as ferramentas apresentadas ao longo de mais de trezentas páginas do livro. Contudo, mesmo sem eu entender nesse momento, uma semente havia sido plantada.
Não demorou muito para que minha filha chegasse aos dois anos e sua autonomia, desejo por independência e vontade própria se manifestassem, cada dia com maior intensidade. Quem já passou — ou está passando — por essa fase, sabe o quanto todos os nossos conceitos e reações são desafiados, o quanto é fácil ser dragado por essa armadilha.
Em meus momentos mais sou-uma-pessoa-espiritualizada, eu até conseguia sorrir para a expressão de sua força de vontade e poder pessoal; mas, nos dias de cansaço, noites mal dormidas e de compromissos inadiáveis, que, convenhamos, são frequentes na vida de uma mãe, eu me via num impasse diante daquela pequena criatura, sem saber como agir, me sentindo oprimida pela maternidade e com vontade de saltar pela janela. E, de impasse em impasse, eu me angustiava mais e mais, me sentindo perdida, muitas vezes incapaz, e me perguntando se estava fazendo a coisa certa.
Foi nesse contexto caótico que aquela semente plantada nas minhas leituras germinou! Porque, acima de tudo, eu não tinha certeza do que era certo, eu não tinha caminhos previamente traçados para educar, eu via pontos negativos e positivos em todas as linhas que conhecia, em todos os conselhos que ouvia. Mas eu te confesso: não tinha vontade de seguir nenhuma dessas linhas, porque eu não acreditava de verdade que elas me ajudariam a educar minha filha como eu pensava que ela merecia. Meu coração não se apaziguava, eu não sentia segurança.
Eu precisava retomar a busca por um caminho do meio — e encontrei esse caminho na Disciplina Positiva. Saem de cena o autoritarismo e a permissividade, dando espaço para a Gentileza e a Firmeza. Não há espaço para nenhum tipo de punição, seja física ou emocional, nem para elogios, castigos ou recompensas.
Para tudo! Como assim? Como faz?
Como substituir tudo que a gente conhece na educação de filhos?
Ensinando a linguagem do encorajamento; ensinando a focar em soluções, ao invés de procurar culpados ou usar consequências lógicas – que, na maioria das vezes, são punições disfarçadas. Sabe quando tiramos um privilégio de uma criança por ter se comportado mal e dizemos que “isso é para você aprender a lidar com as consequências da sua escolha”? Existem sim as consequências naturais das nossas escolhas e sabe qual é a grande sacada para você saber o que é consequência e o que é punição? A consequência acontece naturalmente, independente de sua interferência.
Bonito, né? Mas no meio do olho do furacão da birra, daquele choro em que você pensa que os vizinhos devem estar ligando pro Conselho Tutelar ou quando, por nada desse mundo, a criança está disposta a entrar no banho, o que fazer? Como agir? Essa sempre foi minha implicância com a Disciplina Positiva, com o que eu tinha lido. Eu criticava esse ponto, eu pensava que nada daquilo funcionava no estado de calamidade pública, mas o que eu sabia, de verdade? A semente germinava, mas eu precisava saber mais!
Hoje, após o curso de formação de educadores em Disciplina Positiva no Brasil, entendo que meu maior erro ao estudar a Disciplina Positiva foi ler e ouvir todas as coisas procurando um passo-a-passo de como agir nas situações desafiadoras. Mas não é disso que se trata. Não estamos aqui falando de um método infalível, de um manual de instruções, estamos falando de uma FILOSOFIA DE VIDA, uma quebra de paradigmas, de um convite para um novo olhar sobre as relações entre as pessoas ou, como gosto de dizer, um exercício profundo de empatia e encorajamento.
Quando entendemos que não há respostas prontas e paramos de olhar para fora em busca da fórmula mágica, estamos aptos a voltar o nosso olhar para dentro de nós e de nossos filhos, e assim tentar entender, com franqueza, os nossos sentimentos, pensamentos, medos e crenças. É através desse exercício de olharmos para nós mesmos que conseguiremos olhar verdadeiramente para nossos filhos, com mais disposição e generosidade para entender os pensamentos, medos e crenças que eles estão construindo através de nossa forma de se relacionar com eles.
Isto é Disciplina Positiva. Sua essência é, para mim, Amor. É aquilo que a gente sente no coração primeiro, para só então fazer sentido para a cabeça. É por isso que, mesmo sendo um sentimento universal, não existe um conceito fechado sobre o que é o amor.
Eu não ensino Disciplina Positiva para as pessoas, eu as sensibilizo para que possam, elas mesmas, sentir e entender através do seu próprio coração.
Agora eu te pergunto: e você, já sentiu a Disciplina Positiva?
Michelli Lorenzi, 36 anos, mãe da Camila de 2 anos e 7 meses, servidora pública, blogueira autora da página Amoreira (Facebook: @amoreiradp). Graduada em Farmácia e Bioquímica, vivendo a vida na versão beta. Apaixonada por comunicação não violenta, empatia, vulnerabilidade e relacionamentos humanos. Educadora em Disciplina Positiva para pais certificada pela Positive Discipline Association.
Gostei muito do post. Ainda não sou mãe, mas estou prestes a ser (se Deus quiser! rs). E andei pesquisando sobre Disciplina Positiva e tive os meus “preconceitos” de achar que seria permissivo e também de achar que seria algum tipo de manual de instrução.
Esse post abriu minha mente. Vou pesquisar mais sobre o assunto.
Abraços.
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Fico muito feliz com seu relato! Disciplina Positiva é uma filosofia muito bacana q muda nossa forma de pensar a respeito da criação dos filhos. Ao mesmo tempo nos coloca em conflito c um monte de prejulgamentos. A prática é desafiadora e não tem nada de permissiva, mas sim de respeito e acolhimento! 😉
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