Essa exclamação é recorrente em muitas casas, inclusive na minha!
Logo após a introdução alimentar das meninas, comecei a passar pela dificuldade comum de fazer Isabela e Laura comerem frutinhas, papinhas, legumes, carnes. Nunca vi duas crianças aprenderem a cuspir tão rápido: elas cuspiam tudo, isso quando conseguíamos colocar algo dentro da boca.
As duas eram bem pequeninhas quando começou a introdução alimentar aos seis meses; mal se sentavam sozinhas e já tínhamos que colocá-las na cadeirinha para as refeições. Obviamente que mamar era muito mais gostoso e tranquilo, mas recebemos a regra de começar a alimentação sólida… então, lá fomos nós.
Demorou alguns vários meses para as meninas efetivamente comerem. Acredito que foi lá pelos dez meses.
Confesso que isso me causava grande angústia. Incomodava muito a possibilidade de Isabela e Laura não estarem bem alimentadas e era bastante desconfortável ficar tanto tempo insistindo para que comessem alguma coisa nas refeições. Fora todas as dúvidas sobre dar ou não o peito antes ou depois da comidinha, dar ou não mamadeira, substituir uma refeição pela outra, amassar ou não, horários, intervalos, quantidades… tudo duplicado, porque, obviamente, uma era diferente da outra nisso também.
Invejava aquelas crianças musas do BLW comendo tudo com as mãos, famintas, devorando frutas, legumes, carnes, lambuzadas e recheadas de comida.
Minhas meninas eram resistentes. Foi bem aos poucos que criaram o hábito das principais refeições, sobretudo da comida salgada.
Depois do seu primeiro ano, Isabela e Laura passaram a comer super bem no almoço, lanche e jantar. Uma alimentação variada e colorida. Não recusavam quase nada. Tinham poucos desafetos na cozinha.
Eis que chegam então os dois anos de idade e a bagunça retorna com força.
As meninas começaram novamente a recusar alguns alimentos. Viraram as inimigas do verdinho, especialmente folhas e afins. Alguns alimentos, a depender da forma de preparo, não passavam mais no teste de qualidade. Gostavam de purê de batata na segunda-feira, mas na quarta-feira cuspiam tudo. Devoravam o brócolis no sábado, mas atiravam longe na quinta-feira.
Adivinhar e acertar a vontade delas virou um desafio quase sempre perdido.
O cenário é triste. Você compra aquela verdura linda e sem agrotóxicos, aquele frango orgânico, tudo a preço do olho da cara, passa tempos na cozinha preparando, e a criança faz o que?! Cospe tudo, atira nas paredes e derruba no chão; fala na maior que está ruim.
É chorar ou respirar fundo até a próxima refeição.
Hoje em dia, elas estão com um humor um pouco melhor para comidas. Um humor altamente sensível e variável. Tem dias que não aceitam nada no café da manhã, mas almoçam bem, lancham médio e jantam mais ou menos. No outro dia tudo muda, devoram café da manhã, almoço, lanche e jantar. Você sente um sopro de esperança e acha que o sol voltou a brilhar pra você, mas o dia seguinte chega e… as crianças voltam a cuspir tudo.
E assim seguimos… um dia após o outro.
Quando essa seletividade recomeçou, eu tive muita, mas muita dificuldade em lidar com ela, bem mais do que no início da introdução alimentar, certamente. Ficava irritada, sem paciência, nervosa (em síntese, puta da vida!). Obviamente que Isabela e Laura percebiam o poder que tinham sobre mim quando começavam a recusar e cuspir a comida. Eu ia ficando mais brava, e elas, mais seletivas, até fecharem a boca e nada mais entrar.
É a treva, colega!
Descobri na pele a receita para um dos maiores fracassos e estresse materno: insistir para a criança comer quando ela tenta mostrar de todas as formas que ela não quer!
É ruim, difícil, conflituoso. No fim das contas, eu sentia que todas nós estávamos perdendo, mesmo quando eu conseguia sucesso em algumas colheradas. Demorei um bocado de tempo para perceber que estava errando feio quando insistia e forçava as meninas a comerem isso ou aquilo em alguma refeição.
Vi que, quando eu mantenho a tranquilidade, mesmo que elas rejeitem algo inicialmente, muitas vezes comem em seguida e até terminam o prato. Outras vezes, quando as duas não comem e deixam o prato quase intocado, eu não insisto nem forço nada e nenhuma de nós sai mais do eixo. O momento das refeições começou a fluir de uma maneira melhor e bem mais respeitosa para nós três.
No final das contas, percebi também que não posso dizer que as meninas não comem. Existem crianças que realmente não comem, mas não é esse o caso delas. As duas comem, sem regularidade e com seletividade, é certo. Tenho me esforçado para encarar isso como natural, respeitando a consciência que Isabela e Laura têm do próprio corpo (as crianças estão muito mais conectadas com o corpo do que nós adultos e sabem suprir melhor que nós suas necessidades).
Em dias não tão bons, onde o cansaço está muito presente, ainda me irrito quando as duas começam com muitas frescuras alimentares, cuspidas a distância e arremessos de comida. Porém, tenho conseguido racionalizar mais a coisa e voltar rápido ao propósito de fazer da refeição uma hora agradável, como deve ser. Afinal, comer está entre as melhores coisas da vida, essas crianças que ainda não descobriram isso… rs