Quem nos acompanha por aqui sabe que a minha gravidez não foi nada planejada. Um belo dia estava grávida; dias depois, descobri serem gêmeos. Foi um susto duplo (trocadilhos a parte)!
O sentimento que surge de uma situação dessas é bem particular. Algumas pessoas, no meu lugar, ficariam imensamente felizes e agradecidas; outras ficariam apavoradas, perdidas, com medo… são muitas as possibilidades.
Eu, particularmente, fiquei em choque! Não sabia para onde ir, nem o que pensar. Olhava aquele exame e achava inacreditável.
Algumas alterações físicas só começaram a fazer sentido depois do resultado positivo do exame. Até então, eu não suspeitava mesmo de uma gravidez.
A ficha demorou a cair. Foi apenas na primeira ecografia que eu percebi que não tinha erro algum e que havia de fato não apenas um, mas dois serzinhos crescendo ali dentro.
Olhando para trás até esse momento da minha vida, percebo que vivi um certo luto depois da descoberta da gravidez. Não soube lidar de maneira inteiramente saudável com a notícia. Não era apenas uma dificuldade de lidar com o imprevisto e com o não planejado. Estar grávida significava uma mudança de vida radical, um mergulho no escuro e no desconhecido. Estar grávida sem estar casada me colocou em conflito com um imaginário conservador e machista que eu nem sabia ao certo que existia em mim e ainda me deixou muito vulnerável aos julgamentos e olhares alheios.
Eu demorei a me restabelecer. A conseguir conciliar meus sentimentos. A entender e superar certa tristeza. Deixei-me levar por ela por um tempo…
O que eu não percebia naquela época era que eu estava perdendo um tempo precioso de curtir e acompanhar com mais leveza e encantamento a rápida e impressionante evolução do bebê ao longo das semanas de gestação. Ela não ia esperar o meu luto passar para seguir em frente.
Claro que fazemos o que está dentro das nossas possibilidades, já que somos seres limitados e falíveis por essência. Acredito que fiz o que estava ao meu alcance naquele momento, o meu possível.
Só que hoje fico com a sensação de que realmente perdi um tempo precioso e sem volta. Perdi tempo demais com pensamentos negativos e demorei a dar espaço para que os sentimentos bons assumissem seu lugar para me envolver com alegria e curiosidade com a minha gestação e com o milagre da vida do qual eu participava como protagonista.
A chegada de um bebê, para além de toda a mudança de vida que traz, é um momento essencialmente alegre, feliz, mágico mesmo. Não são todos os escolhidos para essa missão. É uma missão grandiosa, com um poder de transformação grande, capaz de te impulsiona a dar o melhor de si em tudo (ou quase tudo) de um modo rápido, quase instantâneo.
Hoje tenho certeza de que o melhor seria abraçar essa missão logo e não permitir que o brilho desse momento fosse ofuscado pelo luto diante da notícia repentina.
Eu demorei a fazer isso! E perdi tempo. Tempo de observar em mim e fora de mim as muitas transformações que a maternidade traz consigo desde seu princípio.
Não é apenas o corpo que muda, são os valores, a perspectiva de vida, as expectativas de futuro, as ambições pessoais, as prioridades, a relação com a família, com as pessoas, com o mundo…
Hoje, quando me perguntam se pretendo ter mais filhos, minha resposta tem um tom meio melancólico. É que eu penso que dois filhos, diante da realidade atual, é um bom número, mas eu gostaria de engravidar novamente exatamente para poder curtir uma gravidez de maneira inteira e plena (e o medo de virem gêmeos novamente?! Abafa… rs)
Por isso, é sempre bom lembrar que o imponderável nos reserva muitas coisas boas. Não vale a pena perder tanto tempo no escuro e deixar de aproveitar ao máximo esse brilho que vem junto com os milagres da vida…
Minha gravidez também não foi planejada e provavelmente por isso, ainda estou me acostumando com a ideia de que minha vida irá mudar totalmente em poucos meses. Assim como você, enfrentei um tipo de “luto” pela vida que deixarei para trás. Depois, pouco à pouco um amor nasceu dentro de mim, um sentimento de cuidado com o ser que cresce dia à dia dentro do meu ventre. Mas ainda tenho dias difíceis como hoje. Dias em que tenho muito medo de não ser boa o suficiente, de não dar conta, dias em que fico triste e ler esse post me deu um conforto à mais.
Obrigada por compartilhar.
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Fico muito feliz que esse texto tenha te tocado nesse ponto que é tão complicado ne… gravidez em si já mexe com a mulher, se é não planejada, balança ainda mais as estruturas. Mas tenha a certeza de que, por maior q seja sua dúvida e insegurança, vc vai dar conta de tudo e vai ser ótima mãe, a melhor que seus filhos poderão ter. Confie no seu instinto e confie no seu corpo. Com relação ao luto, nada melhor do que o tempo; ele é o melhor remédio! Fique bem! Beijo
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