O lado solitário da maternidade

A maternidade é, definitivamente, uma experiência rica de descobertas do mundo exterior e interior. Há verdades reveladas apenas no dia a dia do ser mãe.

Para mim, uma descoberta muita forte foi a de que a maternidade pode ser uma experiência um tanto solitária. Não me lembro de ouvir isso de alguém. Não recordo de me contarem que eu poderia me sentir muito sozinha, mesmo estando constantemente acompanhada das minhas filhas e com o dia totalmente tomado pelos seus cuidados.

Assim que temos filhos, somos transferidas para um mundo paralelo, onde todo e qualquer assunto gira em torno do bebê (ou bebês no meu caso). Parece que os outros assuntos, antes tão variados e importantes, perdem espaço e relevância. Parto, trocas da fralda, frequência e consistência do cocô, assaduras, banho, mamadas mil, golfadas, noites em claro, cólicas e afins dominam as conversas. As visitas, quase em sua totalidade, sejam ou não da família, querem saber do bebê, vê-lo, pegá-lo no colo e dar palpites sobre sua semelhança com a mãe ou o pai.

No início, as visitas aparecem com mais frequência, amigos e familiares são mais curiosos, querem saber do dia a dia com o novo bebê.

Passados alguns meses, as visitas e os curiosos já não são tantos. O bebê já não é mais essa novidade toda.

O dia a dia da mãe, porém, não muda em quase nada. Ela está ali, na missão diária, trocando fraldas, dando banhos, amamentando, levando para tomar sol ou fazer um passeio pelo quarteirão, muitas vezes sem dormir ou comer direito, cansada, física e emocionalmente. Seus dias são assim, um após o outro. Todos mais ou menos iguais, com poucas variações do mesmo.

A vida social é pouca ou quase nenhuma. Convites para sair nem chegam mais. Quando surgem, são educadamente recusados por pura impossibilidade prática e física.

Algumas pessoas não querem incomodar, outros não se interessam mesmo por sua nova vida. Mal sabem que um contato fortuito e despretensioso para falar de qualquer coisa banal pode fazer grande diferença no dia daquela mãe….lado-solitario-da-maternidade

A vida familiar também fica um pouco de lado. Não se pode mais estar presente em todos os momentos. Agora o seu momento é outro…

Muitas pessoas entendem. Outras não…

Conforme o bebê cresce, esse isolamento melhora consideravelmente e já é possível sair de casa para ver pessoas e paisagens, encontrar amigos e parentes, respirar novos ares. Não é aquela vida agitada e livre de antes. Nunca mais será.

Você não recusa mais todos os convites, mas seleciona com critérios quais aceitar pensando nas crianças (não tanto em si mesma). Quando vai aos compromissos, não consegue interagir da mesma forma, ter longas e profundas conversas com amigos, passar horas de pura diversão e distração. O bebê pede sua atenção e cuidado.

Pode ser complicado se encaixar nessa nova realidade, achar o próprio lugar, entender e internalizar as mudanças. São mudanças radicais, em pouquíssimo tempo.

São tempos quase sabáticos.

Não estamos mais tão disponíveis como antes.

Nem ficamos sabendo de algumas novidades.

O círculo de amizades acaba se reduzindo: nem todos que considerávamos amigos se mostram como tal nesse novo momento. Os verdadeiros ficam, mas é difícil encontrá-los na frequência e da forma como gostaria.

A imersão na realidade doméstica é intensa, mesmo quando se retorna ao trabalho e às atividades costumeiras de antes de se ter filhos. É que sempre vai ter um serzinho indefeso esperando e você é o mundo dele.

O resto do mundo fica pequeno diante disso, mas deixa certa saudade.

Algumas frivolidades não têm mais lugar na vida nova.

Não há tempo para certas coisas e certas pessoas. Muitas vezes não há mais interesse também.

Assim, vamos construindo as novas fronteiras de um novo existir. Esse é um processo que pode ser, além de doloroso, bastante solitário. Principalmente porque ele diz respeito única e exclusivamente a você, ao seu lugar no mundo e ao modo como vai se encaixar nele a partir dos seus novos papéis de vida.

Ninguém pode fazer isso por nós a não ser nós mesmas…

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