Um dia minha preocupação maior era não comparar Isabela e Laura. Hoje, minha preocupação é também não rotulá-las.
Muitas vezes, parece inevitável tecer algum comentário a respeito da natureza da criança, sua personalidade, suas atitudes, seus comportamentos mais frequentes e repetidos, sua postura diante de certas situações…
Isabela e Laura são muito diferentes! Muito mesmo! Só vieram da mesma barriga, com um minuto de diferença entro o nascimento de uma e da outra, mas são pessoas completamente distintas, algumas vezes opostas.
Sim, bebês mostram muito claramente suas personalidades se estivermos abertos para interpretar seus sinais.
Isabela tem mostrado ser bem ligada no mundo ao redor, presta muita atenção nas nossas atitudes e reações e repete, ipsis literis. Se ela suja alguma coisa, derrama água, logo pega o paninho mais próximo e vai lá limpar, sozinha, sem ninguém falar nada.
Isabela também é muito sensível com relação aos sentimentos, próprios e alheios. Ela é muito emotiva, para chorar e para sorrir. Ela tem mostrado muita empatia também: percebe o estado de espírito de quem está perto e age de acordo. Se a irmã está chorando, vai consolá-la; se alguém se machuca, vai dar um beijinho (porque fazemos isso com elas quando fazem “dodói”); se alguém parece triste por alguma razão, dá um abraço.
Basta falar ou fazer algo uma vez na frente da Isabela; na próxima, ela vai repetir. Até contar até cinco a garota já contou (daí em diante é meio embaralhado)… o que para mim é um feito impressionante para um bebê de um ano e sete meses.
Isabela também tem sido um pouco mandona com a irmã; se Laura não faz o que nós pedimos, Isabela traz ela de arrasto. Também dá umas broncas no meio das brincadeiras.
Vira e mexe nos pegamos dizendo: “Nossa, como Isabela é esperta”; “Viu como Isabela é inteligente”; “Como ela é carinhosa”; “Isabela anda autoritária”; “Isabela está mandona né”.
Laura continua não sendo tão aberta nas suas emoções, mas também não se pode dizer que é tímida. É mais refletida, pensativa, concentrada, observadora. Normalmente é ela quem primeiro consegue realizar algum feito acrobático tipo subir e sentar sozinha na cadeira de alimentação, descer com segurança da cama (bastante alta), subir e pular no sofá. Ela inventa a arte e o que Isabela faz? Imita (sem a mesma precisão inicialmente). rs
Laura é mais grudinho. Gosta de colo, de contato físico. Abraça apertado, mas reluta em dar beijo. Sorrir também, só quando ela quer muito. O negócio dela não é tanto os adultos, mas as crianças. Ela ama crianças, de todas as idades. Essas ela abraça e beija a vontade.
Laura não é de muitas palavras, normalmente fala pouco; tem se aventurado mais nas conversas agora; mas entende muito bem o que dizemos e pedimos. Ela fica na dela, mas quando é contrariada, vem enxurrada de choro e lágrimas.
Ai nos pegamos falando: “Laura é calma, mas têm gênio forte”, “Laura é muito espoleta”, “Laura inventa cada uma”; “Laura está chorona”; “Laura é muito sociável com crianças”.
Tenho pensado mais sobre isso nesses dias… sobre esses rótulos, que parecem inofensivos, mas podem não ser tão assim.
Acredito que eles podem começar a guiar atitudes e a moldar o comportamento da criança. Palavra, nesse caso, tem mesmo poder e é capaz de condicionar comportamentos, mesmo que inconscientemente.
Algumas características podem ser transitórias. As vezes é só uma fase que cada uma delas está passando. Mas quando é sintetizada em um adjetivo, a criança se torna “a inteligente”, “a difícil”, “a chorona”, “a competitiva”…. e assim ela age, e assim os outros a tratam… hoje ou, num extremo, pela vida a fora.
Acho que nesse ponto minha mãe tem razão (em alguns outros também. rs). Não podemos rotular a criança. Ela é criança, está em formação, evolução e eterna transição. Se começarmos a dar como certa e definitiva alguma característica, acabamos por afetar diretamente seu comportamento, até porque somos os adultos, o porto seguro, o colo e o apoio, normalmente somos os porta-vozes da razão, do certo e da verdade.
É sempre bom refletir sobre o que estamos fazendo com a autoridade que nos foi confiada enquanto pais. Estamos fazendo bom uso dela, sendo justos e respeitosos com nossos filhos, ou estamos nos tornando um pouco tiranos e nos rogando a autoridade de dizer como eles são ou deveriam ser?!