Não sou profunda conhecedora de psicologia, pedagogia, medicina, religião ou qualquer outra espécie de conhecimento hábil a dar contornos mais técnicos a uma análise do comportamento humano, mais precisamente, o infantil. Sou simplesmente uma curiosa inquieta, como é da minha natureza geminiana de ser (sim, sou do signo de gêmeos e tive gêmeos, seja lá o que isso quer dizer…).
Depois que as meninas passaram a ter mais vontade própria e a manifestar suas personalidades (fortes!), comecei a observá-las e perceber coisas curiosas em seu comportamento.
Por exemplo, como é típico das crianças, elas levam muito à sério a disputa por brinquedos ou qualquer objeto de interesse no momento; são capazes de ir até as últimas consequências para fazer valer essa vontade, mesmo que isso signifique empurrar, morder, tomar, usar força, correr, esconder, tudo para manter a posse do objeto de desejo (vamos tentando garantir níveis razoáveis de sociabilidade, mas as vezes os instintos falam mais alto).
Isso é muito claro entre Isabela e Laura. Elas disputam os brinquedos com unhas e dentes (por vezes literalmente!). O complicado é que normalmente uma quer o brinquedo que está na mão da outra, mesmo com dezenas de outras opções por perto. Não interessa se a irmã está com uma garrafa velha e amassada na mão; quando a outra bate o olho naquilo, o fato de estar na mão da irmã torna-o a coisa mais valiosa, desejada e cobiçada do momento.
Ai se inicia uma disputa que quase sempre termina no choro de uma e na glória da outra. Poucas vezes esse conflito se resolve de forma pacífica. As vezes Isabela vence a disputa; as vezes Laura ganha. Varia…
O curioso nisso é que, quando a irmã que conseguiu o brinquedo disputado vê a outra aos prantos, muitas vezes tenta consolá-la e leva um outro brinquedinho para tentar minimizar seu sofrimento. As vezes o prêmio de consolação funciona… as vezes não.
Tenho percebido que Isabela não gosta de ver Laura chorando e vice versa, Laura se incomoda com o choro da Isabela…
Outro dia, Laura tomou um senhor tombo porque não viu o degrau da sala para cozinha e tropeçou…. Isabela, que já estava na cozinha comigo, correu ao encontro da irmã e ficou desconsolada com o seu choro. Eu fui lá, abracei a Laura, conversei e chequei se estava tudo bem. Laura ainda chorava; Isabela foi pertinho dela, olhou bem nos olhos, deu um abraço e fez um carinho na cabeça, conversando em um dialeto meio particular que eu não entendi bem, mas que nitidamente era para confortar a irmã.
Eu assisti a tudo aquilo bem de perto e achei inacreditável. Pensei comigo: “quem ensinou isso para ela?”.
O verdade é que não ensinamos nada disso para nenhuma das duas. Ao menos não diretamente. Procuramos tratar as duas com muito amor e afeto, damos colo e carinho, respeitamos seu choro e sempre acolhemos quando precisam.
Isso pode até dar referenciais para as duas de como agir em situações de tristeza ou choro. Mas a iniciativa de uma consolar a outra, oferecer carinho, dar um abraço, um beijo e tentar acalmar é algo que parece vir da sua natureza inata.
Veja, elas são bem pequenas ainda. Têm um ano e sete meses (para ser precisa). Por mais que estejamos tentando passar conceitos e comportamentos nesse tempo, tem coisas que são delas e vem da sua mais espontânea forma de ser.
De variadas formas, as duas revelam bondade, solidariedade, carinho, gratidão, empatia, perdão, tudo de uma maneira bem infantil e pura.
Tenho achado incrível assistir esse desabrochar das meninas.
Fico pensando na responsabilidade que recai sobre nós, adultos, de encorajar e preservar essas demonstrações de bondade que vem da natureza humana. Tenho receio que nosso rigor e disciplina na educação possa confundir, distorcer ou padronizar o pensamento da criança e, aos poucos, anular essa pureza. Na maioria das vezes, minha conclusão é de que sou eu quem tem que aprender com as meninas em espontaneidade, delicadeza, perdão e gratidão… qualidades tão ausentes no mundo adulto!
Educar é, definitivamente, uma via de mão dupla…