Conforme as crianças crescem, vão testando seus próprios limites (e os nossos também).
Esse instinto desbravador as coloca em muitas situações de risco e exigem que estejamos de olho para evitar contratempos ou machucados mais sérios.
A curiosidade delas fala muito alto sempre: a todo momento mexem exatamente onde, em regra, não deveriam. Na tomada, no fio do eletrodoméstico, na gaveta das facas, nas portas e gavetas dos armários (fechando ou abrindo ou os dois incessantemente), no sapato sujo, na lata de lixo, no vaso sanitário… Tentam escalar a cadeira, o sofá, a cama… Ignoram nossos pedidos e repetem aquele comportamento repreendido um sem número de vezes…
Nessa hora, falar um grande e sonoro “não” acaba sendo inevitável.
Aqueles que defendem uma educação infantil mais positiva orientam a evitar o puro e simples “não”, a ser mais acolhedor com a criança, expor a coisa de maneira positiva, explicar, conversar, justificar, não podar sua curiosidade e espontaneidade com reações abruptas.
Eu, no alto do meu esforço em ser uma boa mãe, confesso minha dificuldade em evitar o “não”. Há momentos em que essa é a única reação possível para mim.
Quando a Laura está indo de boca no protetor de tomada para tentar tirá-lo, eu não consigo dizer outra coisa a não ser “nãããão”. Quando a Isabela fica com seu dedinho forte fuçando nesse mesmo protetor de tomada, eu logo digo “não”.
Quando Laura puxa o fio do ventilador da tomada pela milhonésima vez, eu acabo dizendo “não pode”.
Quando a Isabela fica na ponta do pé tentando pegar da mesa de café da manhã prato, xícara, faca, eu acabo dizendo “não” ao mesmo tempo em que vou às pressas segurar sua mão curiosa.
Quando Laura sobe sozinha e quietinha na cadeira de alimentação, fica em pé lá no alto, fazendo estripulias a ponto de levar uma senhora queda, eu calmamente me aproximo dizendo “não pode”. Isabela aprendeu com a irmã o mesmo feito e tem levado alguns “nãos” também.
Quando as duas se juntam para jogar TODOS os brinquedos no chão pelo puro e simples prazer de vê-los cair no chão, eu digo “não” (Pelo amor de Deus!).
Quando as duas correm para a lixeira da cozinha para pegar algo lá de dentro ou jogar algo que estão carregando na maior pressa (parecem já saber que não deveriam estar fazendo isso), eu vou atrás dizendo “nãããão”.
Quando entram no banheiro e ficam querendo abrir a tampa da privada, o “não” é automático.
Tenho concluído que eu digo um bocado de “nãos”.
Veja bem… eu não sou uma mãe histérica, que sai gritando e correndo atrás das crianças o dia inteiro dentro de casa ou na rua para que elas não façam essas coisas que crianças comumente fazem. Não me entenda mal!
Só digo bastante “não”, calmamente, ponderadamente, refletidamente, em tom educado e respeitoso (tá, as vezes não é bem assim, as vezes eu grito e corro atrás mesmo, mas não é sempre!).
É tanto “não” inevitável que dentre as primeiras palavras das meninas está o que?! “Não!”
Isabela fala não para mim, para o pai, para irmã, para a babá, para quem quer que a contrarie. Laura está indo na mesma linha.
Agora uma dá bronca na outra também. Quando menos espero, Isabela vai bem decidida na direção da Laura dizendo “não” e tirando o que ela tem na mão. E vice versa… Normalmente Laura recebe mais broncas da irmã do que dá. Isabela tem mostrado um ar levemente fiscalizador, para não dizer mandão. rs
Vivenciar essas situações tem me feito pensar em como poderia, realmente, diminuir os “nãos” e abordar as meninas de outra maneira. O esforço é grande: dizer “não” é muito fácil e tentador (não necessariamente eficiente).
Tenho tentado internalizar o mantra “não diga não”, mas, na hora do vamos ver, a coisa é bem mais difícil do que parece! Definitivamente impor limites aos filhos sem dizer não é uma arte que eu ainda não domino…