Não seja essa pessoa!

Ser mãe é necessariamente aprender a lidar com um bocado de palpites, conselhos, críticas e julgamentos. Parece que todos, tenham ou não filhos, sentem-se bem à vontade na posição de ensinar a mãe a exercer seu papel nos seus maiores ou menores detalhes. Os que não têm filhos reproduzem conselhos da própria mãe, das tias, avós, amigas, irmãs, vizinhas… Aqueles que têm filhos muitas vezes reproduzem suas próprias experiências como se regras gerais fossem.

Parece que gerar, parir e criar filhos representam um conhecimento meio universal e qualquer um sabe (supostamente melhor do que a própria mãe) o que deve ser feito.

A coisa começa já na gravidez. Querem se apropriar da grávida, da sua gestação, do que ela pode ou não comer, do tipo de exercício físico que deve ou não fazer, de que lado dorme, do tamanho da barriga e, mais impressionantemente, do seu parto.

Se a mulher cogita um parto normal, é natureba radical-masoquista-meio louca. Se opta pela cesárea, é uma desinformada manipulável pelo sistema médico-hospitalar. Se quer um parto domiciliar, então, é índia da tribo dos sem-noção-de-como-viver-na-sociedade-moderna.

Para começo de conversa: o corpo é de quem mesmo?

É da mulher o direito de decidir que tipo de gestação e parto levará adiante e, mais ainda, o direito de não ser interrogada a cada instante sobre a sua escolha, seja ela qual for. Inseguranças e dúvidas existem naturalmente nesse processo e não é necessário nenhum elemento dificultador, principalmente se reencarnado na “Santa Inquisição do Parto Ideal”.

Quando nasce um bebê, nasce uma comunidade inteira de palpiteiros.

Nesse momento, descobre-se o quão grande é a capacidade das pessoas de dar sua própria opinião, sobretudo quando ela não é pedida.

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Surgem especialistas em amamentação, em resguardo, em dieta de lactante, em cólica de bebê, em sono infantil, em umbigo de neném, em terapia de casal pós-filhos. Surge expert em tudo que é assunto ligado à maternidade, mas não aparece uma santa alma na casa da recém parida para lavar a louça suja na pia, dar um jeito na roupa que acumula na lavanderia, para fazer as compras de mercado, para levar um almoço ou um lanche gostoso ou só para fazer companhia e dar uma mãozinha com o bebê.

Se a mãe amamenta pouco tempo e precisa dar mamadeira, é desnaturada, até egoísta. Se amamenta bastante tempo, sofre fuzilamento pelos olhares daqueles que se ofendem com criança maior no peito.

Se amamenta em livre demanda, está se escravizando e deixando o bebê viciado em mamar a qualquer hora. Se impõe rotina e horários para a amamentação, não respeita as necessidade do recém nascido.

Se dá muito colo, está acostumando mal e criando uma criança dependente. Se deixa chorar, é cruel e não pensa nos possíveis traumas que pode gerar no bebê.

Conforme o bebê cresce, os conselhos também ganham corpo.

Na hora da introdução alimentar, surgem mil especialistas em nutrição infantil.

Se a mãe quer evitar doces, industrializados e conservantes, é a mal compreendida, exagerada e repressora, que não deixa a criança ser feliz comendo um brigadeirozinho na sua festinha de um ano. Se deixa o filho comer biscoito e salgadinho, é alienada sobre o os perigos da obesidade infantil.

Se deixa a criança ver TV, é preguiçosa, sem criatividade nem consciência dos males que esse entretenimento passivo pode causar. Se veta a TV em casa, é radical e cria o filho fora da realidade.

Se precisa deixar na creche desde cedo, provoca uma quebra precoce no vínculo com o bebê e o deixa sujeito a muitas situações de risco. Se para de trabalhar para cuidar das crianças, é pouco valorizada e frustrada profissionalmente. Se deixa em casa com babá, está terceirizando a educação dos filhos.

Se diz muitos não aos filhos, é castradora. Se diz poucos nãos, é permissiva.

Se leva o bebê para dormir na cama com os pais, está arruinando sua vida de casal e impedindo o bebê de ganhar autonomia. Se coloca o bebê para dormir sozinho no berço desde o primeiro dia, ignora a necessidade de contato e presença que tem o recém nascido.

Se fura a orelha da menininha para colocar brinco, pratica uma violência contra seu corpo. Se não fura a orelhinha, é feminista radical (o mesmo para as variações não vesti-la de rosa e estampa floral e embonecá-la com laços e fitas).

As situações são infinitas, assim como parecem ser os palpites e as críticas.

Poderia dar um conselho?! Não sejamos essa pessoa! Não sejamos essa pessoa que não se contem ao dar a sua opinião sobre algum assunto ligado à maternidade, ao querer ensinar a mãe a ser mãe, ao criticar alguma opção ou comportamento materno, ao julgar a dinâmica familiar alheia (principalmente se você não tem filhos).

Se você é mãe, mais do que qualquer outra pessoa, tem razões concretas para não fazer com outra da sua espécie aquilo que certamente detesta que façam contigo.

silencioÉ chegada a hora de se calar: esse silêncio fala mais e melhor do que qualquer discurso, conselho ou opinião pessoal. Exercitemos a arte de ouvir. A mãe precisa de apoio, empatia, acolhimento, espaço para se expressar e externar frustrações, dúvidas e inseguranças sem ser a todo tempo alvo de sugestões e julgamentos pretensamente inocentes.

Julgamentos nós, mães, já recebemos aos montes, de todas as mais variadas e numerosas fontes, seja de dentro ou de fora da família. Vale também lembrar que nosso sensor de autocrítica está bastante sensível desde o parto, portanto, nosso julgamento próprio é bem maior do que julga sua vã filosofia.

Opiniões sobre maternidade e criação de filhos são muito bem vindas quando pedidas. Nesse meio tempo, ouça, acolha, sorria, abrace, acalme, ofereça ajuda, esteja presente e, assim, seja um ativo colaborador da paz e harmonia no mundo materno.

 

2 comentários sobre “Não seja essa pessoa!

  1. Amei! Sou mãe de 3 e estou farta de palpiteiros! Não dou conselhos sobre nada pra ninguém, digo apenas: siga seu coração 😁😉 Seguindo… Beijo

    Curtido por 1 pessoa

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