Para que tanta pressa?!

As meninas nasceram prematuras, com quase 34 semanas de gestação. Isso trouxe uma preocupação: a possibilidade de a prematuridade ter alguma influência no desenvolvimento motor ou neurológico e atrasar marcos de desenvolvimento das bebês.

Conversando com os pediatras desde a UTI Neonatal até as consultas de rotina, fomos sempre tranquilizados com relação a isso: todos eram unânimes em dizer que, a princípio, uma coisa não leva à outra e que os prematuros normalmente recuperam muito bem o passo depois daquela fase inicial mais delicada.

Só que, por um tempo, todas as diferenças das meninas com bebês a termo eram colocadas na conta da prematuridade: Ah, elas ainda não firmam a cabeça, não rolam, não ficam de bruço, não sentam… é porque nasceram prematuras né?!

Eu nem sabia ao certo essa resposta. Na verdade, não tinha a exata noção de que habilidade as meninas teriam que desenvolver ao completar um, dois, três meses… e daí por diante. Eu só ia observando as evoluções delas um dia após o outro…

Nunca notei nenhuma diferença significativa entre as meninas e outros bebês a termo nascidos próximos a elas. Todos pareciam bem sincrônicos em seus desenvolvimentos. Obviamente que as conquistas de cada bebê eram em tempos e formas diferentes. Acredito que, nos primeiros meses, os bebês a termo eram mais rapidinhos que as meninas para algumas questões motoras. Isabela e Laura ainda ganhavam peso e tônus muscular. Depois de uns quilinhos a mais, ninguém segurou as duas. rs

Havia diferença no desenvolvimento das meninas comparado a outras crianças, mas também havia diferença entre elas próprias. Contei sobre isso aqui.

As duas foram ganhando firmeza IMG_7189no pescoço e no corpinho em ritmo parecido. Isabela conseguiu rolar e sentar primeiro. Laura fez isso em seguida e logo aprendeu também a engatinhar. Isabela só rolava ou se arrastava de um lado para outro, mas nada daquela engatinhada tradicional. Um belo dia Isabela engatinhou e, na sequência, começou a ficar em pé com apoio. Laura demorou um pouco mais para ficar de pé, mas, diferente da Isabela, não deu pequenos passos, logo andou “grandes” distâncias. Isabela começou pegando os brinquedinhos com as mãos; Laura em seguida se interessou pelos brinquedos também e se apaixonou por brincadeiras de encaixar, peças, potes, qualquer coisa. Isabela foi quem primeiro falou algumas palavras inteligíveis como “mamã”, “papá”, “qué”; Laura ficava mais calada, mas, quando resolveu falar, nunca mais parou, virou uma tagarela que bate altos papos em um dialeto só seu, com entonação e broncas inclusive. Uma graça.

Vivenciar a evolução da Isabela e da Laura simultaneamente diminui de certo modo a ânsia de fazer comparações e relativiza um pouco essa pressa que muitos temos de ver as coisas acontecerem na evolução infantil. No fundo, sei que é questão de tempo para elas começarem algo novo e para uma alcançar a outra em algum feito.

Esse primeiro ano da vida do bebê é muito intenso. São muitas conquistas e descobertas, são inúmeras habilidades aprendidas e muitas sinapses feitas.

É no primeiro ano também que nós, mães e pais, parecemos ter mais pressa para que as coisas aconteçam. Não vemos a hora de a criança sentar, andar, falar, manifestar suas vontades…

Procuramos mil e uma formas de estimular o bebê, seja com brinquedos, seja com atividades. Hoje em dia existem inclusive academias e aulas de psicomotricidade especialmente para bebês de 0 a 6 meses! (Um parêntese inocente: sempre penso que nossos bisavós, avós, pais e nós mesmos nunca tivemos tanto estímulo forçado e ainda assim andamos, falamos e pensamos perfeitamente bem… ou não?! rs).

Como tudo na maternidade, a escolha por uma estimulação mais intensa do bebê é pessoal e intransferível.

Na minha opinião, o complicado é a relação meio maluca que surge quando a criança alcança certas conquistas. Quando o bebê senta, queremos que ele fique deitado e não gostamos quando ele passa a reclamar de ficar nessa posição. Quando finalmente o bebê engatinha ou anda, queremos que ele fique quieto e reclamamos da hiperatividade e excesso de curiosidade dessa criança. Quando o bebê fala, queremos que ele fique calado e temos dificuldades em lidar com a sua repetição, insistência e inquietude de idéias.

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Para que tanta pressa então? Para que tanto estímulo, se nós mesmos não conseguimos evoluir em um ritmo harmônico para aprender a lidar com essas conquistas do bebê?

Ao mesmo tempo em que escrevo isso me questiono pessoalmente e reflito sobre como muitas vezes fico impaciente com as meninas durante esse seu processo de descoberta de si próprias e do mundo. Acho que a evolução do bebê deveria vir acompanhada da mesma dose de infantilização dos pais: aprender a ver o mundo pelos olhos da criança que o está descobrindo facilitaria um bocado as coisas.

 

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