Dormir. Do latim dormire, significa “estado de quem dorme”, “estar entregue ao sono”, “estar em repouso”, “conservar-se imóvel”, “passar a noite”, “não fazer nada”, “estar latente”.
Tem um tempo que não sei mais o que é realmente dormir uma noite de sono. Precisei recorrer ao dicionário. Seria cômico se não fosse trágico!
Reconheço que aquele tempo caótico de acordar a cada duas ou três horas ao longo de noites a fio para amamentar as meninas recém nascidas acabou. Foi um tempo duro, sofrido. Posso me considerar uma sobrevivente (não apenas eu, o marido também, porque foi o parceiro de todas essas noites. Justiça seja feita!). Sobrevivi a um corpo em frangalhos, a uma olheira sem tamanho, à absoluta falta de tempo para comer e descansar, à dificuldade de dormir de dia para compensar noites insones, às horas arrastadas da madrugada com as crias no colo (mamando, arrotando, chorando, tudo menos dormindo), à irritabilidade constante, à falta de vontade para fazer qualquer coisa diferente de dormir.
Sim, esse tempo passou. Mas isso não quer dizer que hoje, mais de um ano após o nascimento das meninas, temos uma noite inteira “entregue ao sono”. Não, não temos.
Houve um intervalo de tempo em que Isabela e Laura dormiam a noite inteira (talvez episodicamente entre seus três e cinco meses). Confesso que, inicialmente, eu achava isso estranhíssimo: cheguei a acordar no sobressalto para ir ao berço ver se estavam bem, vivas, respirando… lá estavam as duas, dormindo profundamente.
Esse foi um momento de muito orgulho. Pensei: somos privilegiados; as meninas vieram em dupla e com um módulo avançado de dormir instalado no HD. Sensacional! Evolução da espécie.
Só que esse tempo foi breve… e também passou. Elas começaram a acordar uma, duas, três vezes a noite, cada uma…
Descobri que tudo influencia no sono do bebê. Ele é algo misterioso, simples, mas complexo, delicado e multifacetado. O dia influencia na noite. Se o bebê aprende novas habilidades motoras, tem o sono alterado. Se fica doente, não consegue dormir. Se dorme muito de dia, pode dormir pouco a noite. Se dorme pouco de dia, pode ficar agitado a noite e não dormir direito. Se começou a comer novos alimentos, muda o padrão de sono. Se tem dente nascendo, dorme mal. E os saltos de desenvolvimento, ah, esses tais saltos… tornam seu filho irreconhecível, mas mesmo assim continua seu filho. Um filho que não dorme bem a noite e que, obviamente, não te deixa dormir.
Tenho duas filhas que não me deixam dormir a noite. Quando temos sorte, cada uma delas acorda uma vez. Quando não estamos num bom dia, as acordadas podem ser seguidas e revezadas, a cada meia hora, existindo a possibilidade de formação de nuvens negras com instalação do caos, o choro de uma despertando a outra e a casa inteira de pé no meio da madrugada. Esse cenário é o pior de todos; existem variações mais amenas dele!
As vezes a acordada é de leve: não é nem preciso tirar do berço, é só mudar a posição, colocar a chupeta, aconchegar a fraldinha de estimação delas entre as mãos e dar uns tapinhas no bumbum, pronto, voltam a dormir. Outras vezes acordam assustadas, chorando forte e temos que correr para acudir na tentativa de acalmar e também de evitar que a irmã que ainda dorme acorde junto.
Muitas vezes, depois de algumas acordadas e tentativas frustradas de deixá-las no berço para dormir, levamos para nossa cama. Impressionante como as meninas dormem bem quando estão dormindo conosco! Dormir com elas é gostoso, mas nem eu nem o marido conseguimos descansar 100% quando elas estão na nossa cama (não que o contrário aconteça quando elas estão no berço delas. rs).
O maior problema é que as meninas são espaçosas, mexelonas, fazem acrobacias de um lado para o outro enquanto dormem; no meio da noite você, que já está torto e travado para deixar a criança em segurança na cama, recebe uma pesada no nariz ou um cruzado de direita no olho.
De uns tempos para cá, as duas, sempre que acordam, chamam por mim. Ouço de onde estou aquele “mamã” choroso. As vezes sou eu mesma quem vou ao berço, outras vezes o pai, no nosso revezamento 2×2 (as vezes ele vai contrariado porque não foi ele quem foi chamado. rs).
Esse acorda, levanta, deita e tenta dormir de novo, várias vezes na noite, acaba com a qualidade do sono de qualquer pessoa. Na manhã seguinte, estamos todos meio ressaqueados e cansados, menos Isabela e Laura: elas estão a todo vapor! Ah sim, e temos que trabalhar, resolver questões da casa, comparecer esporadicamente a eventos sociais e dar assistência à família, tudo sem ficar dormindo pelos cantos…
Tenho sérias dificuldades de conversar com outros pais sobre o sono das minhas filhas. Não consigo disfarçar, nem falar com meias palavras que elas simplesmente não dormem uma noite inteira no alto de seu um ano de vida. Tenho também sérias dificuldades em ouvir falar de métodos de sono, encantadoras de bebês, super nannies e afins… não consigo nem quero deixar minhas filhas chorando até pegarem no sono sozinhas. Acho cruel e desleal. Outra dificuldade é minha incredulidade quando ouço alguém falando que seus filhos mais novos ou da mesma idade das meninas dormem a noite toda desde pequeninos. Lá dentro de mim fico pensando que isso não pode ser verdade, que não é possível essa criança não acordar nenhuma vezinha, não dar nem um chorinho, nem fazer uma reclamaçãozinha, por menor que seja. Nada? Mesmo?
Meu lado racional obviamente diz que não é para comparar, que cada casa é diferente da outra e cada criança é de um jeito. Mas meu lado emocional, louco, isone e cansado fica martelando aquilo e pensando como seria se as duas simplesmente dormissem a noite e acordassem na manhã seguinte. O que eu faria nesse tempo? Dormiria? Só? Com tanta coisa para colocar em ordem e em dia… Vai saber. Fico pensando que talvez essa seja a sensação do paraíso na maternidade. Talvez haja vida depois disso. Ou talvez não. Tenho um pouco de medo desse dia; medo de perder a razão da minha existência. Acho que eu já não estou falando coisa com coisa. Realmente preciso dormir…
Amei mais esse texto. Vc sabe, as minhas tem 7 anos e 3 anos e até hj não durmo uma noite inteira. Como vc mesma disse, tudo o que acontece durante o dia, ou mesmo até o que era pra acontecer e não aconteceu, interfere no sono, na noite das crianças, e consequentemente, na nossa noite tb. Sonho acordada na noite em que vamos todos dormir pelo menos 8h direto. Boa sorte pra nós todas, mães!
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Ana Paula! Tomara que esse dia (ou essa noite) chegue logo! Merecemos… Um beijo
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