Quando as meninas completaram seis meses, já estávamos super entendidas no quesito amamentação. A coisa fluía bem e eu dominava a rotina de alimentação delas depois de bastante tempo patinando nesse quesito.
Ai, na consulta de rotina com o pediatra, veio a notícia: tínhamos que começar a introduzir novos alimentos na dieta da Isabela e da Laura.
Sério, agora? Justo agora que está tudo tão tranquilo e sereno vou ter que começar a pisar em terreno desconhecido de novo?
Não sei porque cargas d´água esse marco inadiável de seis meses do bebê para a introdução alimentar. Dr. Carlos Gonzáles – pediatra espanhol que escreve sobre diversos assuntos relacionados ao universo infantil e de quem gosto muito – diz ser mais uma questão de convenção social do que propriamente uma necessidade fisiológica do bebê. Acho bastante plausível esse argumento, mas não, não fui a pessoa que contrariou aquela orientação médica; talvez tenha feito a coisa apenas em um ritmo mais lento e gradual… rs
Esse foi um momento bastante desafiador. Eu ainda estava emocionalmente frágil, apesar de bem mais segura da maternidade. A proximidade do término da licença e do retorno ao trabalho traziam um medinho (para não dizer pânico total!). E vinha mais essa, começar a introduzir novos alimentos…
Comecei a me informar sobre o assunto e percebi que existem trocentas correntes e formas de oferecer os primeiros alimentos ao bebê. BLW (Baby-led Weaning, que traduzimos como “desmame guiado pelo bebê”) era a coisa mais modernosa que se poderia experimentar. A mim, pareceu bem caótico, sobretudo quando pensava na prática com as duas meninas.
Optei, então, pelo método tradicional papinha-pratinho-colherzinha-mamãe-bebês… Mal sabia eu que essa equação tinha diversos outros fatores: mil paninhos e guardanapos, sujeira generalizada, cadeiras de alimentação, cuspes, choro das crianças, bocas que não abrem, choro da mãe das crianças, roupas manchadas (não só as dos bebês), coragem, insistência, falta de paciência, frustração, desistência, repetição e vários outros.
Começamos com as papinhas doces. Se essas seriam mais fáceis de o bebê gostar por serem docinhas, eu não sei o que seria difícil (ah, sim, eu sei, a papinha salgada. rs).
Depois que as meninas estavam comendo bem as frutinhas, passamos para as papinhas salgadas.
Graças ao Bom Deus e a toda legião de Anjos e Santos do Céu que a minha mãe me ajudou (e ajuda) no preparo da comida salgada das meninas. Assim, conseguimos manter um cardápio balanceado, bem variado e orgânico em sua maioria.
Foram alguns meses de insistência para que as duas entrassem num bom ritmo de alimentação, com café da manhã, lanche, almoço, lanche da tarde e jantar.
Não foi fácil. Na verdade, não é fácil até hoje, elas já com mais de um ano.
Dar as refeições para as meninas é o mesmo que acompanhar a mudança das marés. Comem bem de manhã, mas não almoçam direito. Não lancham bem a tarde, mas devoram o jantar. E a isso seguem todas as possíveis combinações de sim, não e talvez ao longo das várias refeições diárias.
Qualquer doença ou dente nascendo interfere diretamente no apetite delas… e como, nessa fase, sempre tem um dente nascendo, uma virose, uma gripe boba, já se vê que as refeições são uma aventura inconstante…
Passar da consistência da papinha para alimentos mais sólidos é outro desafio.
Por vezes é difícil manter a concentração das meninas no momento da refeição. Tenho a impressão de que, para elas, aquilo ali é legal nos primeiros 5, no máximo 10 minutos. Depois, é uma grande chatice. Então fico eu, driblando mãos e brinquedos que criam obstáculos para a colher chegar até a boca ou tentando fazer com que a boca abra para a comida.
Descobri que, quando um bebê cerra a boca, não há reza que faça abrir. Não há malabarismo, aviãozinho, brinquedinhos ou caretas que funcionem! Já me senti um tanto quanto ridícula tentando mil formas de fazer Isabela e Laura abrirem a boca para o “papá”.
Percebi que quanto mais ansiosa eu vou ficando com o fato de elas não estarem comendo bem alguma refeição, mais elas ficam reticentes com a comida, evitam as colheradas e ignoram todos os meus esforços em fazê-las comer. Parece uma sacanagem planejada, sabe; mas, obviamente, não é! Nosso ânimo e estado de espírito na hora das refeições do bebê têm influência direta no rendimento dela: quando estou ansiosa ou apressada, querendo que as meninas comam tudo logo, mais elas resistem em comer; quando dou a refeição de maneira despretensiosa, sem pressa, tranquila, elas raspam o prato e as vezes pedem mais.
Reconheço outra dificuldade: encarar de modo muito mecânico essa experiência alimentar das meninas. Tenho dificuldade em conceber que elas são pessoas de gosto e vontades variáveis, como todos nós; têm mais ou menos apetite de manhã; um dia querem comer manga, no outro não; preferem o almoço de um dia ao jantar. Lidar com essa inconstância é ainda é desafiador.
Ah, também não me agrada a lambança generalizada; fico levemente irritada quando Isabela e Laura começam a tirar a comida da boca e a jogar no chão, na parede, em mim…
Mais uma vez, vejo que sou eu que tenho que aprender a ler os sinais que elas me passam e a controlar as minhas emoções para que elas não contaminem ou prejudiquem o momento.
Ainda não consegui controlar totalmente, porém, a angústia que envolve saber se as meninas estão bem alimentadas, se não falta nada, se estamos fazendo certo (mesmo sabendo que o certo na maternidade é meio relativo e depende de cada casa, de cada família e de cada bebê).
Por um outro lado, é muito gratificante ver pelos olhos delas as novidades e as descobertas na alimentação. Elas amam de primeira alguns alimentos, mas recusam insistentemente outros. Um belo dia aquele alimento meio odiado é devorado. Vai entender… Elas normalmente comem com muito gosto e com um olhar de alegria enorme. Adoram se melecar com a comida (a mãe que resiste um pouco a isso). Hoje estão na fase de querer experimentar tudo o que comemos, comer no nosso prato, pegar a colherzinha com a mão, pegar a comida sozinha e fazer o que bem entender com ela, até mesmo colocar na boca e mastigar (um BLW abrasileirado…rs).
No meio disso, estamos nós, mãe e pai, rondados por uma constante preocupação em melhorar nossos próprios hábitos alimentares para passar bons exemplos e hábitos para as pequenas, para que elas saibam desde cedo como se alimentar de forma saudável… porque de todos os bordões sobre alimentação, dois deles me soam verdadeiríssimos:
“você é o que você come”
e
“faça do seu alimento o seu remédio”!
Um comentário sobre “O Desafio da Introdução Alimentar”