Definitivamente essa foi e ainda é a tarefa mais desafiadora de toda a vida!
Só depois da minha vivência pessoal percebi o que está realmente por trás de tantas polêmicas em torno da amamentação e de tantas campanhas públicas de incentivo ao aleitamento materno.
Oferecer ao filho recém nascido o único e melhor alimento que ele precisará por um bom tempo e que é produzido natural e livremente pelo corpo da mãe é de uma simplicidade complexa!
São inúmeros fatores a serem administrados: a pega correta, a posição confortável e eficiente para a mãe e o bebê, a recuperação do pós parto, a enxurrada de hormônios, a rede de apoio com quem contar, as dúvidas sobre a quantidade e a suficiência do leite, as dores e possíveis feridas nas mamas (e na alma), a exaustão física e mental, as cobranças internas, as interferências externas, os palpites de todos os lados, as comparações desnecessárias (e inevitáveis), e por ai vão infinitas variáveis a depender de cada mulher, cada bebê e cada família.
O que deveria fluir desde o início de maneira natural, quase automática, pode não acontecer bem assim. Conosco não foi!
As meninas nasceram prematuras e com baixo peso (apesar de estarem ótimas para a idade gestacional: nasceram com quase 34 semanas, 42 cm e cerca de 1,800kg); não sugaram o seio na primeira hora de vida como recomendado; seu primeiro contato com o seio materno foi praticamente uma semana depois de nascidas. O leite? Desceu aos montes em seguida ao parto, mas como não amamentei desde o início, tive de aprender na marra a ordenha manual; aprendizado dolorido, suado (literalmente) e trabalhoso. Tinha muita vontade de amamentar minhas filhas, mas o caminho foi bem mais tortuoso do que poderia imaginar. Nosso início não foi nada romântico ou sublime: foram horas enfurnadas na sala do banco de leite aprendendo a tirar o leite para dar às meninas por uma sonda. Foi uma espécie de realidade nua e crua, bem difícil de digerir, em especial pela fragilidade e novidade daquele momento.
Passada essa experiência de UTI Neonatal e hospital, depois da alta hospitalar, surgiram novos desafios em casa. A rotina com recém nascido é bastante desgastante. Dois recém nascidos, prematuros, ainda mais. A amamentação, que é um desafio para qualquer mãe no início, torna-se uma superação quando falamos em gêmeos. Acredito que as inseguranças e as dúvidas, normais nesse período, acabam aumentando também diante da responsabilidade que representa nutrir dois seres, únicos e cheios de particularidades. São dois bebês mamando cada um a sua maneira e, no meu caso, uma mãe de primeira viagem em constante teste de seus limites, físicos e mentais.

Chorei, sorri, senti dor, sangrei, pensei em desistir, persisti, perdi a confiança em mim e no meu corpo, depois voltei a acreditar, cheguei à exaustão em uma rotina alucinante de oito mamadas por dia para cada uma das bebês por meses, sofri com a necessidade de introduzir complemento, frustrei-me por não alcançar os seis meses de aleitamento exclusivo, hoje comemoro por amamentar as meninas há mais de um ano.
Nesse caminho, foi muito importante me informar com fontes confiáveis e reais defensoras da amamentação, que não procuram seduzir a qualquer tempo e preço para o leite ou bico artificial sem real indicação; foi fundamental também receber delas conforto e acolhida diante das dificuldades e fragilidades; foi essencial contar com uma rede de apoio que me permitia me doar inteiramente às minhas filhas nesse tempo que foi, de fato, exclusivamente delas.
Não havia tempo para nada além de amamentá-las e lhes oferecer os cuidados básicos nos primeiros meses. Foi bem difícil para mim me render a essa realidade, entender que aquele momento não era meu, mas delas, e que ficaria suspenso qualquer projeto individual que não se relacionasse à maternidade. Sim, eu cometi o equívoco de pensar que, mesmo com duas bebês gêmeas recém nascidas, eu conseguiria fazer diversas coisas não ligadas à maternagem. Ledo e primário engano. Apenas consegui paz interna quando me convenci de que o que eu estava querendo era humanamente impossível. Não era incompetência minha ter tantas coisas fora de lugar e tarefas por fazer; é que eu simplesmente estava imersa em uma função essencial e importante demais para me deixar tempo para superficialidades (tive que rever meus conceitos do que era de fato essencial ou urgente e deixar todo o resto para depois… ou para nunca mais! Minha pressa natural ainda me coloca em conflito as vezes…).
Não imaginei que meu corpo aguentaria tamanho esforço e doação. Descobri em mim uma força que jamais imaginei ter!
Nós, mulheres, temos dessas coisas. As mães em especial. Por trás de uma imagem aparentemente frágil, habita um gigante, com uma força descomunal, uma vontade absurda de acertar, uma capacidade inigualável de aprender e uma habilidade meio camaleônica de se moldar ao sabor dos ventos, dores, amores, dissabores, desafios.
Confie em você e no seu corpo; você é sim capaz de passar por todas as provas que a maternidade irá te dar; simplesmente mantenha a mente aberta para ir internalizando as lições. Por maiores que sejam as inseguranças, não duvide da capacidade do seu corpo de alimentar o seu bebê… a natureza é, sim, muito sábia! Amamentar é das melhores coisas que você pode fazer por seu filho!
PS: Não seria justo deixar de lembrar daquelas mães que, por alguma razão, pessoal ou física, não puderam amamentar. Registro aqui meu respeito e solidariedade e espero que essa não seja uma frustração duradoura. Nossa história também não foi fácil e, com o tempo, vemos que há muitas coisas a se descobrir e realizar na maternidade!
Testemunho claro e que certamente ajudará outras mães, sobretudo as de primeira viagem. Sim amamentar é uma das coisas mais gratificantes que experimentei, mas gostei da sua observação ao final: “PS: Não seria justo deixar de lembrar daquelas mães que, por alguma razão, pessoal ou física, não puderam amamentar. Registro aqui meu respeito e solidariedade e espero que essa não seja uma frustração duradoura. Nossa história também não foi fácil e, com o tempo, vemos que há muitas coisas a se descobrir e realizar na maternidade!
Sim… vocês ainda irão viver muitas coisas juntas até o momento que terão de caminhar sozinhas. Gosto muito dessa frase: Há dois presentes que devemos dar à nossos filhos: um são raízes, e o outro são asas.
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Tia Teca! Muito obrigada por sua mensagem! Fiquei muito feliz e emocionada. Suas palavras me fizeram pensar. Ainda não estou nada preparada para a parte do “caminhar sozinhas” e “dar asas”; por enquanto estou apenas criando “raízes”. rs. Beijo grande
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